O presente estudo aborda a questão metodológica que caracteriza a pesquisa na área das representações sociais. Em particular, aprofunda o problema da verificação empírica do consenso que uma representação possui para um determinado grupo social. Esta preocupação metodológica foi abordada neste estudo cujo objetivo foi compreender a organização estrutural da representação social do medo em adultos de ambos os sexos. O interesse foi também analisar o papel do gênero na construção deste tipo de representação. Primeiramente, com um grupo de 60 indivíduos adultos, foi desenvolvida a abordagem da livre associação de idéias, como meio de acesso ao campo semântico das representações, (pedia-se que os sujeitos expressassem livremente o que pensavam com a evocação da palavra medo). A partir deste levantamento, foram selecionadas 20 palavras entre as mais evocadas. Depois, com um grupo de 72 sujeitos, foi investigado o nível de consenso da representação social do medo através da técnica não-verbal de classificação. Para tal investigação, os sujeitos foram submetidos a duas tarefas: uma de classificação livre, em que foram convidados a agrupar as 20 palavras inscritas nos cartões, mais a palavra "medo", em grupos diferentes de acordo com a similaridade de significados, ou de função, entre elas; a outra tarefa foi a de classificação dirigida: os sujeitos foram solicitados a pensar sobre as 20 palavras e ordená-las em função de estarem mais ou menos associadas com a emoção medo. Os dados foram analisados por métodos estatísticos multidimensionais (SSA, MSA). Considerados em seu conjunto os resultados das projeções MSA dos dois grupos de adultos - homens e mulheres - apresentam as mesmas regionalizações dos itens e um mesmo tipo de polarização entre as regiões. As várias regiões - Saúde, Abandono, Entidades Sobrenaturais e Violência Social - apresentam elementos e características qualitativamente diferentes, cada região ocupando uma direção no espaço da projeção MSA, que emana de um mesmo ponto comum de origem - o item "medo". O medo, portanto, é o elemento polarizador, em torno do qual se estruturam os demais. A Projeção SSA, considerando toda a amostra, apresentou a Saúde como a região central e as outras ao redor formando uma estrutura tipo "radex". Observou-se também que, de maneira geral, as mulheres apresentam médias superiores em relação aos homens, à exceção dos itens solidão, separação, escuro e menino de rua. Enfim, estes resultados são interpretados e discutidos em relação à investigação sobre as representações sociais focalizando o problema de sua verificação empírica.
The study examines a methodological question that concerns research on social representations. In particular, it permits a deeper examination of the problem of the empirical validation of the consensus that a representation has among a particular social group. This methodological concern was approached in a study whose main aim was to understand to structural organisation of the social representation of fear among adults of both sexes. The elements of representation of fear were first collected from a group of 60 adults through a free association method which consisted of asking the subjects to say what they thought of when the word fear was used. 20 of the commonest responses were then selected. Another group of 72 adults then participated in a study where the level of consensus of the social representation of fear was investigated using one free and one guided non-verbal sorting task. Results of the MSA analysis of the free sort for both groups of adults, men and women, showed the same regional polar structure with respect to the conceptualisation of fear. The facet of fear was comprised of four qualitatively different elements: "Health", "Abandonment", "Supernatural Entities" and "Social Violence". Each one of these facets occupied a different direction in the space of the MSA plot, though emanating from the same common point of origin: the item " fear ". The SSA plot for the whole sample, showed that there is a central area for- "Health" (having the item AIDS at the very centre), and that the other areas form a radex structure around it. It was also observed that, in general, women presented higher mean fear scores than men, except for the items 1"solitude", 1separation", "darkness" and "street children". Finally, these results are interpreted and discussed in relation to the problem of the empirical validation of social representations.