Esta pesquisa objetiva analisar criticamente as representações sociais da esquistossomose numa área rural endêmica do estado do Espírito Santo. Os resultados da pesquisa foram desmembrados em três artigos, a fim de permitir um maior detalhamento da descrição e a explicação das inter-relações e condicionamento sobre o modo como os indivíduos atribuem sentido à esquistossomose. Neste artigo são apresentados apenas as representações da esquistossomose enquanto processo orgânico, incluindo os tópicos sintomatologia, tratamento e etiologia. Transpondo o nível da mera checagem de conhecimentos sobre a doença, verificamos que estes últimos, apesar de poderem ser "repetidos" pela população, não contêm necessariamente os elementos mínimos que lhes garantam qualquer consistência lógica, do ponto de vista do grupo em questão. A prática dos programas de controle desenvolvidos pela Fundação Nacional de Saúde demonstrou ter grande influência sobre a forma de se pensar o problema da esquistossomose na área investigada. Destaca-se, no imaginário local, a mitificação do molusco transmissor da esquistossomose como sendo capaz de alojar-se no organismo humano, devorando-o inteiramente. Discute-se a baixa credibilidade na existência de tal doença e o papel do quimioterápico no contexto estudado. As percepções mitificadas da esquistossomose desviam a atenção popular das questões de saneamento e condições gerais de vida ligadas à endemia.
The aim of this research is the critical analysis of the social representation of schistosomiasis in an endemic area in the State of Espírito Santo, Brazil. The results are presented in three papers in order to allow for an in-depth explanation of the interrelationship and conditionings related to the ways in which the population perceive schistosomiasis. This paper approaches the representation of schistosomiasis as an organic process, including the following topics: symptoms, etiology, and treatment. By transposing an assessment of "level of knowledge", we found that "knowledge" alone does not have the minimum necessary elements to warrant logical consistence from the point of view of the population. The practical measures of control programs carried out by the National Health Foundation strongly influence social representation of the disease. The creation of a myth concerning snails as elements capable of entering the human body and eating away at one's insides exerts an overwhelming influence over the population. We discuss the population's limited belief in the existence of such a disease, and the played by the medicine prescribed in the area. The "snail myth" diverts attention from the discussion of sanitary measures and general living conditions related to schistosomiasis.