O artigo trata da decisão de inclusão ou exclusão de óbitos de mulheres em idade fértil, com HIV/AIDS, nas estatísticas de mortalidade materna. Foram analisados os casos referentes ao ano de 1998, investigados pelo Comitê Central de Mortalidade Materna do Município de São Paulo (CCMM-MSP). Tendo como enquadre a abordagem construcionista, a pesquisa utilizou como fonte de dados, relatórios e entrevistas com o presidente do CCMM-MSP e membros de um comitê municipal regional. Buscou-se apontar aspectos presentes na seleção, investigação e classificação final das mortes maternas investigadas, focalizando os espaços de negociação entre os vários atores envolvidos no processo. A análise sugere que, quando se trata de óbitos de mulheres com HIV/AIDS, interferem ainda outros fatores como a precedência do status soropositivo para o HIV e os aspectos morais e simbólicos da AIDS. Concluiu-se que o aperfeiçoamento das estatísticas por meio da melhor compreensão da decisão de inclusão ou exclusão de casos é apenas um lado da questão; faz-se necessário também, melhorar a qualidade da assistência ao ciclo gravídico-puerperal para evitar a ocorrência dessas mortes.
This paper analyzes the decision on whether to include deaths of HIV+ pregnant women in the classification of maternal mortality. The study focuses on deaths of childbearing-age women in São Paulo in 1998, investigated by the State's Central Committee on Maternal Mortality (CCMM). Working from a social constructionist perspective, the research was based on documental analysis and interviews with the president of the CCMM and members of one regional committee. The analysis focused on the selection, investigation, and classification of maternal death, with special attention to the negotiation among various actors involved in the classificatory procedures. The data suggest that in the deaths of HIV+ women, other factors are present including the precedence of HIV status over maternal death and the moral and symbolic aspects of AIDS. The results suggest that improving data through a better understanding of decisions to include or exclude cases is only one side of the issue; it is also important to improve quality of care in pregnancy and childbirth in order to prevent maternal death.