Este trabalho pretende contribuir para a discussão presente sobre a relação entre a saúde e a doença, abordando a problemática por meio da perspectiva hermenêutica. Na primeira parte, retomando a discussão que foi se desenvolvendo dentro das linhas filosóficas hermenêutica, fenomenológica e existencial, será analisada a obra de dois filósofos, Kierkegaard e Heidegger, que influenciaram profundamente a hermenêutica contemporânea. Será apresentado o conceito de angústia que, ao contrário da abordagem biomédica, para Kierkegaard é um componente constitutivo dos seres humanos: para este autor, assim como sucessivamente para Heidegger, a ansiedade não é um sintoma patológico mas um estado que permite um acesso privilegiado de autoconhecimento. Na segunda parte, tentaremos abordar como, na hermenêutica, e principalmente na obra de Gadamer, foram sendo desenvolvidos os conceitos de saúde, doença, sofrimento; analisaremos também como esta perspectiva influenciou, nos últimos anos, as ciências sociais que abordam os problemas de saúde, em particular a antropologia médica. Na terceira e última parte, apresentaremos as implicações da hermenêutica na formação e prática clínica, mostrando a aplicabilidade do pensamento de Heidegger e Gadamer no trabalho de médicos e enfermeiros.
This work aims to contribute to the current discussion on the relationship between health and disease, taking a hermeneutic perspective on the issue. The first section, referring to the discussion among the hermeneutic, phenomenological, and existential lines of philosophy, analyzes the work of two philosophers, Kierkegaard and Heidegger, who profoundly influenced contemporary hermeneutics. The article discusses the concept of anguish, which for Kierkegaard (contrary to the biomedical approach) is a constitutive component of human beings: for Kierkegaard, as subsequently for Heidegger, anxiety is not a pathological symptom but a state that allows for privileged access to self-knowledge. In the second section, we approach how hermeneutics, and especially the work of Gadamer, developed the concepts of health, illness, and suffering; we also analyze how in recent years this perspective has influenced the social sciences (and particularly medical anthropology) in their approach to health problems. The third and final section discusses the implications of hermeneutics for clinical training and practice, demonstrating the applicability of Heidegger's and Gadamer's thinking for work by physicians and nurses.