Este trabalho teve como objetivo compreender os sentidos da dor crônica no discurso e na prática clínica de médicos nos espaços terapêuticos de duas Clínicas de Dor, situadas em hospitais-universitários de Salvador (Bahia) e São Paulo, Brasil. Foi realizado um estudo etnográfico a partir de observação participante e entrevistas semi-estruturadas com médicos (terapeutas e coordenadores de serviço). A análise dos dados foi inspirada nos modelos clínicos desenvolvido por Byron Good e o projeto de racionalidades médicas, formulado por Madel Luz. O reconhecimento da dor crônica pela biomedicina enquanto doença e não como sintoma, sua invisibilidade ao olhar médico, sua incomunicabilidade e inevitabilidade foram os sentidos emergentes neste trabalho. A valorização do encontro humano na clínica, o exercício da compreensão em contraposição à suspeição (distanciamento) e a construção de projetos terapêuticos negociados e sustentáveis a longo tempo foram apontados pelos informantes como necessários no trabalho com dor crônica.
This study aimed to shed light on the meanings ascribed to chronic pain in medical discourse and clinical practice in two Pain Clinics located in University hospitals in Salvador (Bahia) and São Paulo, Brazil. An ethnographic approach used participant observation and semi-structuralized interviews with attending and managing physicians. Data analysis drew on the clinical models developed by Byron Good and the medical rationalities project formulated by Madel Luz. The meanings emerging from the study were the recognition of chronic pain by biomedicine as a disease rather than a symptom, its invisibility to physicians, and its non-communicability and inevitability. The informants suggested the need for valorization of the human encounter in the clinic, exercise of understanding as opposed to suspicion, and negotiation of sustainable therapeutic projects.