Cerca de 30% dos óbitos por causas externas violentas no Brasil são decorrentes de homicídios. Tradicionalmente, a violência tem sido relacionada a problemas sociais maiores, tais como pobreza. Contudo, recentemente, tem-se observado uma correlação positiva entre maior renda e aumento das taxas de homicídio, de forma que muitos pesquisadores passaram a considerar as desigualdades sociais, mais do que a pobreza, como explicação para as epidemias de violência. O objetivo do presente trabalho foi verificar a correlação entre a urbanização, a pobreza e a desigualdade econômica e as taxas de homicídio no Estado de São Paulo, Brasil, em 1996. Para cada município do Estado foram obtidas, a partir do censo demográfico, informações sobre o tamanho, a renda mensal média dos chefes de família, a distribuição de renda e o índice de Gini. As taxas de homicídio foram calculadas para cada município a partir dos dados oficiais. Foram realizadas análises de correlação e cálculos de riscos relativos com intervalos de confiança de 95%. As taxas de homicídio apresentaram aumento diretamente proporcional ao tamanho dos municípios, variando de 6,96 (por 100 000 habitantes), em municípios com menos de 10 000 habitantes, a 55,54, em municípios com mais de um milhão de habitantes; o risco relativo variou de 1,35 a 7,98. Os resultados mostraram que apenas para o grupo de municípios com renda média mensal acima de 3,11 salários mínimos e coeficiente de Gini acima de 0,50 houve correlação significativa com o tamanho da população. A correlação entre as taxas de homicídio e a razão de rendas entre os percentis 90 e 20 da população mostrou-se forte, direta e significativa. É necessário aprofundar a análise dos determinantes macrosociais da violência, buscando identificar indicadores de desigualdade que forneçam elementos para a formulação de estratégias de saúde pública.
Around 30% of the deaths due to violent causes in Brazil result from homicides. Violence has traditionally been related to larger social problems, such as poverty. Recently, however, a positive correlation has been observed between higher incomes and an increase in the homicide rate, so that some researchers have begun to consider inequality, rather than poverty, as an explanation for the epidemic of violence. The objective of this study was to investigate the correlation between urbanization, poverty, and economic inequality and homicide rates in the state of São Paulo, Brazil, in 1996. Information regarding population size, average monthly income of household heads, income distribution, and Gini index was obtained for each municipality, based on the demographic census. Homicide rates were calculated based on official data. Data were analyzed in terms of correlation and relative risk with 95% confidence intervals. Homicide rates rose in direct proportion to city population and ranged from 6.96 (per 100 000 inhabitants) in municipalities with a population smaller than 10 000 inhabitants, to 55.54 in municipalities with more than 1 million inhabitants. Relative risk ranged from 1.35 to 7.98. A significant correlation with population size was found only for incomes above 3.11 times the minimum wage and a Gini index greater than 0.50. There was a strong, direct, and significant correlation between homicide rates and the income ratio between the ninetieth and the twentieth percentiles of the population. It is necessary to probe more deeply into the macrosocial determinants of homicide rates in order to identify indicators of inequality that can generate meaningful data for developing public health strategies.