Objetivo. Investigar o perfil de utilização de serviços de saúde por homens e mulheres no Brasil. Métodos. Utilizaram-se os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 1998. Foram desenvolvidos modelos de regressão logística para analisar as informações relativas a homens e mulheres com e sem restrição de atividades por motivos de saúde nos 15 dias que antecederam a pesquisa. As variáveis individuais foram: posição no mercado de trabalho, escolaridade e raça. Também foram analisadas variáveis relativas à família: renda familiar per capita, tamanho da família e escolaridade e posição do chefe da família no mercado de trabalho. Nos modelos em dois níveis (variáveis individuais e familiares) evidenciou-se um efeito de família que, entretanto, não foi captado pelas variáveis analisadas. Resultados. As mulheres utilizaram mais os serviços de saúde, mesmo quando controlado o efeito da restrição de atividades por motivo de saúde. O uso de serviços de saúde por homens e mulheres dependeu do poder aquisitivo das famílias e das características sociais do próprio indivíduo, definindo um perfil de desigualdades sociais. Observaram-se diferenças no perfil de desigualdade nos gêneros entre pessoas que referiram e não referiram restrição de atividades. As variáveis familiares tiveram maior importância na explicação do consumo de serviços por pessoas sem restrição de atividade. Conclusões. A formulação de políticas voltadas para a redução das desigualdades no consumo de serviços de saúde deve considerar as diferenças entre mulheres e homens, além da importância das características familiares. Ressalta-se a necessidade de incluir as dimensões gênero e família na especificação dos modelos de uso de serviços de saúde.
Objective. To investigate the pattern of utilization of health care services by men and by women in Brazil. Methods. We used data from the Brazilian National Household Sample Survey (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) carried out in 1998. Logistic regression models were developed to analyze information concerning men and women who had and who did not have restrictions in their routine activities due to health problems during the 15 days before the survey. The individual variables considered were: labor market position (type of employment), amount of schooling completed, and race. Also analyzed were family-related variables: per capita family income, size of the family, and, for the head of the family, the amount of schooling and labor market position. The two-level models (with family and individual variables) showed an effect from family characteristics, but the variables analyzed did not explain that effect. Results. Women used health services more often than did men, even after controlling for restrictions in routine activities due to health reasons. The use of health services by men and women was dependent on family income and on the social status of the individual, indicating a pattern of social inequality. In both the group with restrictions in their activities and in the group without such restrictions, the men and women differed from each other in their utilization of health care services. Family variables were more important in explaining the utilization of health services among people without restrictions in their activities. Conclusions. Policies aimed at reducing inequalities in access to health care services must take into consideration the differences between women and men as well as the importance of family characteristics. It is also important to stress the need to include the dimensions of gender and family in the design of health service utilization models.