O objetivo principal deste artigo é elucidar aspectos teóricos básicos para uma compreensão da prática complexa do psicólogo clínico no contexto da reforma psiquiátrica, enfatizando a importância da cultura e do cotidiano. Essa prática implica uma interatividade colaborativa e continuada de caráter interdisciplinar e comunitário. Parte-se de um enfoque psicossocial que valoriza a dinâmica das redes sociais, a cooperação entre profissionais e desses com os usuários. Os aspectos discutidos são: experiência cultural; dinâmica entre oferta de serviço, demanda do usuário e dialógica relacional; sofrimento psíquico, cujo entendimento considera a visão de mundo e mitos culturais do usuário. Destacou-se que as regras informais e interpessoais tenderiam a influenciar o cotidiano do profissional, interferir nas decisões e nas mudanças institucionais. A dialógica relacional supõe uma ressignificação do sofrimento psíquico e da visão de mundo do usuário que passaria pela reinvenção dos mitos culturais excludentes referentes à loucura. Nas considerações finais, dá-se importância à desconstrução institucional como processo de inclusão social.
The main objective of this article is to clarify basic theoretical constructs about lhe complexity of clinical psychologist practice in the context of psychiatric reform, with an emphasis on lhe influence of everyday life and culture in therapeutic interventions involving community networks. This practice implies interdisciplinary collaboration and continuous interactions with lhe community. The psychosocial approach adopted highlights lhe dynamic of social networks and the cooperation between professionals and patients. The aspects discussed in this article are: cultural experience; the interactions involving mental health services, the demand of patients, and the dialogue in therapeutic relations; psychological suffering, whose understanding takes into account lhe patients' world vision and cultural myths. It was emphasized here that informal and interpersonal rules tend to influence lhe professionals' daily practice, and interfere with institutional decisions and changes. The dialogical communication in therapeutic interaction supposes patients' psychic suffering and world vision, which would require reinvention of cultural myths of social exclusion regarding madness. As final considerations, importance is given to de-institutionalization mental institutions as a process of social inclusion.