OBJETIVO: Apresentar e discutir o caráter flexível que emergiu nos relatos sobre consumo alimentar em estudo qualitativo para avaliar práticas alimentares de pessoas submetidas a tratamento dietético por serem hipertensas e o impacto da preocupação com a saúde nestas. Os relatos de consumo alimentar foram analisados como representações sociais e se discutiu as implicações destas em inquéritos dietéticos. MÉTODOS: Em visita domiciliar foram entrevistados 30 hipertensos, sendo 15 de baixa renda e 15 de classe média. Para obtenção de informações sobre consumo alimentar foram aplicados os métodos recordatório alimentar de 24 horas, associado à história dietética e a um questionário de freqüência alimentar, no contexto de uma entrevista em profundidade semi-estruturada. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas em seu conteúdo. RESULTADOS: Situadas entre o discurso e as práticas, as representações expressaram flutuações e contradições sobre o consumo alimentar. Tais representações foram agrupadas em categorias apresentadas como: irregularidade da presença do alimento e das compras; modo de consumo conforme o tipo de alimento; variação do número de comensais; indução das respostas provocada pela busca de informações precisas por parte do entrevistador; falta de memória do entrevistado; imprecisão e contrariedade de relatos sobre consumo alimentar; uso de noções quantitativas cujos valores de referência são particulares ao sujeito e presença de terceiros testemunhando a entrevista. A estratégia metodológica utilizada permitiu observar que há menos precisão nas informações sobre consumo alimentar do que o esperado, por serem estas representações sociais, ou seja, construções mentais da realidade. Os resultados também sugerem que a abordagem da alimentação de sujeitos submetidos à prescrição dietética por meio de inquéritos alimentares pode ser insuficiente para conhecer suas práticas alimentares.
OBJECTIVE: The objective of this qualitative study was to present and discuss the flexible characteristics emerging from reports on food intake of patients submitted to dietary treatment for hypertension control and the impact of anxiety on their health. Food intake reports were analyzed as social representations and their implications in nutritional investigations were discussed. METHODS: Thirty hypertensive subjects were interviewed by means of home visits; 15 were low-income and 15 were middle-class individuals. The 24-hour diet recall method was used to obtain information on food intake, in association with diet history and a questionnaire on meal frequency, in the context of semi-structured in-depth interviews which were taped, transcribed and had their content analyzed. RESULTS: Social representations situated between theory and practice expressed fluctuations and contradictions regarding food intake. Such representations were grouped in categories such as: irregularity in food ingestion and food purchasing; intake method in accordance with the type of food served; oscillation in the number of people eating together; answers induced by the interviewer in search of accurate answers; lack of memory of the interviewed; imprecision and divergent reports on food intake; use of quantitative parameters whose reference values are sensitive to the subject and the presence of third parties witnessing the interview. The methodological strategy employed allowed the observation that there is less precision in the information on food intake than expected, as a result of its being composed of social representations, that is to say, mental constructions of reality. The results also suggest that the food inquiry approach for subjects submitted to dietary prescription may be insufficient to investigate their eating habits.