O presente estudo objetiva explorar as relações inaparentes que diversos fatores relativos às exposições ambientais e características individuais existentes em nosso meio possam ter no processo de desenvolvimento da leucemia na infância. A partir de um banco de dados clínicos e epidemiológicos obtido com estudo caso-controle de base hospitalar sobre fatores de risco para leucemias na infância, foi realizada análise multivariada exploratória por meio do emprego de análise de componentes principais e análise fatorial. Esta investigação é parte de um estudo multicêntrico nacional, que incluiu 292 casos de leucemias em crianças com idade entre 0 e 12 anos e 541 controles da mesma faixa etária, hospitalizados por causas não neoplásicas em hospitais gerais próximos aos centros de origem dos casos. As informações de exposições ambientais selecionadas foram obtidas por meio de entrevistas realizadas com mães de casos e controles, por meio de questionário padronizado. O modelo com maior poder explicativo da variância observada nos dados analisados foi da ordem de 52%, apresentando três fatores considerados mais adequados na predição da leucemogênese na infância, cada um incluindo variáveis com cargas fatoriais maiores que 0,6: fator "condições relacionadas a exposições químicas na gestação", o qual explicou 20% da variância final e incluiu as variáveis exposição a pesticidas, exposição a solventes e exposição a tintas na gravidez; fator "hábitos de vida durante a gestação", tendo explicado 17% da variância e incluindo exposição a tinturas de cabelo e cosméticos para alisamento; e fator "consumo de serviços de saúde durante a gestação", explicando 15% da variância e incluindo as variáveis tipo de parto (cesariana ou parto normal) e uso de radiografia na gestação. Na análise de regressão logística, foi encontrada associação estatisticamente significativa entre o desenvolvimento de leucemias na infância e antecedentes de exposição química materna durante a gestação (OR=1,36; 95% IC=1,16-1,59) e consumo de serviços de saúde durante a gestação (OR=1,27; 95%IC =1,08-1,49). Os resultados encontrados são sugestivos quanto à contribuição conjunta das exposições ambientais, e não apenas individualizadas, no desenvolvimento das leucemias na infância, sendo apoiados pelas evidências na literatura de que o processo de carcinogênese, em geral, e o da leucemogênese, em particular, resultem de efeitos de múltiplas mutações relacionadas a exposições ambientais conjuntas.
This study aims to explore the unapparent relations that several factors related to environmental exposure and individual characteristics existing in our environment may have with the process of developing childhood leukemia. From a database obtained from a clinical and epidemiological hospital-based, case-control study on risk factors for childhood leukemia, an exploratory multivariate analysis was performed using principal component analysis and factor analysis. This research is part of a national multicenter study that included 292 cases of leukemia in children aged 0 to 12 years and 541 controls of the same age, hospitalized for non-neoplastic causes in general hospitals near the centers the cases originated in. Information on selected environmental exposure was obtained in interviews with the mothers of both cases and controls by means of a standardized questionnaire. The model with the greatest explanatory power for the variance observed in the data analyzed was of approximately 52%. Three factors were considered most appropriate for predicting leukemogenesis in childhood, each including variables with factor loadings greater than 0.6: factor "conditions related to chemical exposures during pregnancy", which explained 20% of the final variance and included the variables pesticide exposure, exposure to solvents and paint exposure in pregnancy; factor "lifestyle habits during pregnancy" explained 17% of the variance and included exposure to hair dyes and cosmetics for hair straightening; and factor "use of health services during pregnancy", which explained 15% of the variance and included the variables type of delivery (vaginal or caesarean) and use of radiography in pregnancy. Logistic regression analysis revealed a statistically significant association between the development of leukemia in childhood and maternal history of chemical exposure during pregnancy (OR=1.36, 95% CI=1.16-1.59) and use of health services during pregnancy (OR=1.27, 95% CI=1.08-1.49). The results indicate the joint contribution of not just individual but environmental exposure in the development of leukemia in childhood, and are supported by evidence in the literature that the process of carcinogenesis in general and of leukemogenesis in particular, result from effects of multiple mutations related to joint environmental exposure.