A violência doméstica provoca múltiplas repercussões na saúde das mulheres e gera desafiadora agenda para os profissionais do SUS. Objetivou-se analisar como profissionais de saúde atendem tais mulheres, problematizando a noção de acolhimento em saúde. Adotou-se pesquisa qualitativa e aproximação etnográfica com profissionais de uma unidade básica de saúde (UBS) de Matinhos, Paraná, Brasil. A pesquisa revelou atendimentos centrados em: (1) preceitos biologizantes, com foco em lesões físicas e medicalização; (2) diálogo, escuta ativa, questões psicossociais e estabelecimento de vínculos, destacando-se agentes comunitários de saúde nesta abordagem. A escassez de estrutura local oficial para manejo da violência doméstica enseja atuação inscrita sob a gramática do acolhimento, preconizada pelo SUS, descrita pela literatura, verbalizada na UBS, mas pouco problematizada. Com este artigo buscou-se, portanto, contribuir com tal debate, não no estabelecimento de prescrições, porém no levantamento de indagações e principalmente visibilizando e traduzindo vozes de quem trabalha diuturnamente com esse desafio.
Domestic violence has multiple repercussions on women's health and raises a challenging agenda for health professionals in Brazilian Unified National Health System (SUS). The aim of this study was to analyze how health professionals treat these women, problematizing the notion of acolhimento (receptiveness or openness to patients). A qualitative ethnographic research approach was used with health professionals from a primary care unit (PHU) in Matinhos, Paraná State, Brazil. The study revealed care that was focused on: (1) biologizing principles, with a focus on physical lesions and medicalization and (2) dialogue, active listening, psychosocial questions, and establishment of ties, especially featuring community health agents in this approach. The limited official local structure for handling domestic violence justifies treatment oriented by the grammar of acolhimento, recommended by the SUS, described in the literature, and verbalized in the PHU, but rarely problematized. This article thus proposed to contribute to this debate, not by establishing prescriptions for action, but by raising questions and mainly highlighting and translating the voices of those who deal with this challenge on a daily basis.