O artigo problematiza a utilização de categorias universais na análise dos fenômenos sociais e propõe que se proceda a uma contextualização histórica e culutural dos significados de tais categorias. Parte-se de uma crítia à concepção de indivíduo neutro e universal que, por intermédio das idéias de igualdade e autonomia, constitui o eixo dos valores ocidentais modernos. O argumento principal é que as idéias de igualdade e autonomia se conformaram historiamente como atributos do sexo masculino. Isto porque na gênese do indivíduo moderno não houve espaço para que a diferença sexual se expressasse de forma igualitária, traduzindo-se, ao contrário, por meio de uma dicotomia entre público e privado atribuída segundo o gênero. A ruptura desta dicotomia por parte das mulheres é vista como parte da emergência dos novos sujeitos sociais, que colocam na agenda política e cultural ccontemporânea a idéia da diferença. Em seguida, examina-se, com base em alguns autores, a necessidade de superar o dilema teórico e político que reduz a complexidade das relações sociais a polaridades dicotômicas. Finalmente, utiliza-se a perspectiva discutida para mostrar como a hierarquia de gênero expressa-se mediante a dicotomia público/privado e a concepção de indivíduo neutro vincula-se a alguns tipos de iniqüidades em saúde.
The article questions the use of universal categories in analyzing social phenomena and proposes that the significances of such categories be placed into a historical and cultural context. The basis for this discussion is a criticism of the concept of the neutral, universal individual who, through the ideas of equality and autonomy forms the axis of modern Western values. The main argument is that the ideas of equality and autonomy have historically gained shape as attributes of the male sex. This is because the genesis of the modern individual precluded an egalitarian expression of sexual difference, which instead found translation in a sex-assigned dichotomy between the public and the private spheres. Women are now breaking the boundaries of this dichotomy as part of the emergence of new social subjects, who have placed the idea of "difference" on the contemporary political/cultural agenda. Drawing support from a number of authors, the article moves on to discuss the need to overcome the theoretical and political dilemma that reduces the complexity of social relations to dichotomous polarities. Lastly, from this perspective it is shown how the gender hierarchy manifest in the public/private dichotomy and in the concept of the neutral individual is related to certain types of iniquities in the realm of health care.