Este artigo aborda as transformações atuais na articulação entre as esferas de produção e de reprodução, e seu reflexo sobre a construção de gênero, considerando a família como instância mediadora. A partir da constatação de mudanças nas práticas sociais femininas, expressas no aumento das taxas de participação da mulher no mercado de trabalho e na queda brusca das taxas de fecundidade, o estudo propõe investigar o significado destas questões para um grupo de homens de baixa renda. O levantamento de dados foi baseado em uma metodologia participativa, que incorporou quatro homens das favelas de Man-guinhos, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, no processo de desenvolvimento do questionário e na aplicação do mesmo a 130 homens de três gerações nas suas comunidades. Concluímos que tanto o controle da fecundidade como a participação da mulher no mercado de trabalho são requerimentos para a sobrevivência familiar, já aceitas pelos homens como obrigações sociais da mulher - ou seja, estamos diante de um movimento histórico de "transição de gênero". Entretanto, essas práticas da população de baixa renda não podem ser interpretadas como avanços na igualdade social dos gêneros. Ao contrário, revelam uma relação entre a reelaboração da desigualdade de classe e de gênero.
The article addresses the question of current transformatiòns in the interrelationships between the spheres of production and reproduction and their effects on the construction of gender, with the family considered a mediating factor. Female social practices have changed, as reflected in increased rates of female participation in the labor market and a sharp drop in the birth rate. This study investigates how one group of low-income men feels about these questions. Data collection was based on a participative methodology in which four men from the Manguinhos slums, on Rio's north side, took part in developing a survey and applying it to one hundred and thirty men from three generations within their community. It was concluded that both the control of fertility and female participation in the labor market are necessary to family survival and now accepted by men as a female social obligation - in other words, we are witnessing a historical movement of "gender transition". Nonetheless, these practices displayed by the low-income population cannot be interpreted as advances in the social equality of the sexes. On the contrary, they reveal a relation between the re-elaboration of class inequalities and gender inequalities.