A diversidade étnica no Grão-Pará, na época da cólera, está estampada nas categorias anotadas pelos profissionais de saúde, pelos viajantes e pelos publicistas que registraram as nuanças relativas à cor e à etnia de cada uma das vítimas da epidemia. Arrolados como indígenas, as vítimas caboclas, índias, e tapuias somam 205 almas; e, como negros, vítimas cafuzas, mamelucas, mulatas, pardas e pretas chegam a 646, enquanto os brancos somam 184. As gentes de cores abatidas pela epidemia constituem 82% dos mortos sepultados na Soledade. A cólera "escolhe" ou não suas vítimas? É cega em relação à condição social, à cor e à etnia dos grupos que flagela? São as perguntas que se fazem tendo como campo empírico a epidemia ocorrida no século XIX, e o acesso aos socorros públicos na Belém do Grão-Pará, trabalhando documentos depositados no Arquivo Público do Estado do Pará (APEP) e no Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP).
The prevailing ethnic diversity in the province of Grão-Pará (at the mouth of the Amazon River) during the 19th-century cholera academic is revealed in the categories recorded by physicians, travelers, and chroniclers, with various nuances in the color and ethnicity of victims. The following cholera victims were classified under terms equivalent to indigenous: caboclas, índias, and tapuias, totaling 205 individuals, while blacks included cafuzas, mamelucas, mulatas, pardas, and pretas, totaling 646; meanwhile whites totaled 184. Persons of color who died during the epidemic thus comprised 82% of the individuals buried at the Soledade Cemetery. Does cholera "choose" its victims? Is it blind towards the social conditions, color, and ethnicity of the groups it strikes? These are the key questions in relation to the 19th-century epidemic, along with the question of access to public health care in Belém do Grão-Pará, based on documents from the Pará State Archives (APEP) and the Pará Historical and Geographic Institute (IHGP).