Este artigo descreve e analisa a dinâmica da clínica de dor enquanto um "artefato complexo" do sistema terapêutico biomédico, explorando as múltiplas vozes e as relações dialógicas sobre dor e a interdisciplinaridade no cotidiano clínico de duas clínicas de dor situadas em hospitais-escola nas cidades de Salvador e São Paulo. Foi realizado estudo etnográfico orientado pela antropologia interpretativa, na qual se buscou a descrição de situações singulares e expressivas da dinâmica da clínica de dor (considerada enquanto um serviço, constituído no interior da Biomedicina, destinado ao cuidado da dor crônica). Tais situações expressam tensões e soluções construídas a partir do enfrentamento da dor crônica enquanto objeto complexo que impõe, a todos, flexibilidade. Essa experiência etnográfica focalizou quatro espaços terapêuticos: a sala de espera, o corredor, a consulta médica e as discussões de caso clínico. A descrição produzida ilumina as múltiplas vozes sobre dor e interdisciplinaridade no cotidiano da clínica. Os sentidos da circulação nos espaços terapêuticos, representado no texto a partir da metáfora "circuloterapia", orientam essa discussão em torno dos limites e possibilidades da constituição e funcionamento deste serviço.
This paper describes and analyzes the pain clinic's dynamics as a "complex product" of the biomedical therapy system, exploring the many discussions about the meaning of pain and the interdisciplinary collaboration in the therapeutic daily routines of two pain clinics, located in university hospitals in the cities Salvador and São Paulo. An ethnographic approach guided by interpretative anthropology was used to search for the description of singular and expressive situations of the pain clinic's dynamics (considered as a service, established within Biomedicine, intended for care of chronic pain). Such situations express tensions and solutions created from the confrontation of the chronic pain as a complex object that imposes flexibility to all. This ethnography focuses on four therapeutic spaces: the waiting-room, the hall, the medical consultation and the clinical case discussion. The resulting description enlightens the multiple voices on pain and interdisciplinary collaboration in the clinic's daily routines. The directions of circulation within therapeutic spaces guided this reflection around the limits and possibilities of the establishment and operation of this service.