O presente artigo discute os dados da pesquisa realizada em 2008, no complexo de favelas de Manguinhos, no Município do Rio de Janeiro, sobre os itinerários terapêuticos da população local. Compreendemos por itinerários terapêuticos os caminhos percorridos pelo indivíduo na busca de solução para os seus problemas de saúde. Buscamos identificar até que ponto esses percursos são ordenados por esquemas simbólicos ou pela disponibilidade dos recursos. O método utilizado foi o qualitativo centrado na técnica de entrevistas semidiretivas seguindo um roteiro etnográfico. Foram entrevistados em média três moradores de cada comunidade de Manguinhos, perfazendo um total de 26 entrevistas. Nos resultados da pesquisa, observamos que a oferta de serviços é heterogeneamente distribuída, sendo ela mesma fator gerador de desigualdades na doença. As estratégias diversas revelam que os conhecimentos e práticas desses indivíduos são construídos de e por experiências diversas, em situações biográficas determinadas, e que não há um modelo único de itinerário terapêutico. As "maratonas" urbanas percorridas pela população local denunciam a urgência do Estado em colocar em prática políticas mais justas com um acesso completo à assistência à saúde, garantindo assim o respeito aos direitos.
This paper discusses the data of the survey conducted in 2008 in the Manguinhos Slum Complex, Rio de Janeiro, on therapeutic itineraries of the local population. By therapeutic itineraries we mean the paths taken by the individual in search of a solution to his/her health problems. We aim to identify to what extent these paths are ordered by symbolic schemes or by the availability of resources. A qualitative method focused on the semi-directive interview technique, following an ethnographic script, was used. Three residents of each community of Manguinhos were interviewed, in a total of 26 interviews. The results show that the offer of services is heterogeneously distributed, being itself a generating factor of inequalities in disease. The different strategies show that the knowledge and practices of these individuals are made of, and due to different experiences, given biographic situations and that there is not a single model of Therapeutic Itinerary. The urban "marathons" ran by the local population denounce the urgency of the State to put into practice more fair political policies, with a full access to health care, thus ensuring the respect for the rights.