Este trabalho teve como objetivo analisar e interpretar as reflexões e experiências de usuários frequentadores do serviço de Atenção Primária à Saúde / Unidades de Saúde da Família (USF) sobre o uso do jaleco branco ou roupas brancas por médicos e outros profissionais de saúde. O método utilizado foi o de entrevistas individuais com questões abertas, em profundidade, com usuários de USF, transcritas integralmente e analisadas quanto ao conteúdo e enunciados. A amostra foi fechada por saturação teórica. Como resultado, identificou-se nas 11 entrevistas uma marcante assimetria sociocultural e psicológica como pano de fundo dos três núcleos de sentido identificados: vestuário como marca identitária; vestuário não valorizado como símbolo de competência profissional e vestuário interferindo, positiva ou negativamente, nas relações entre clínicos e pacientes. Discutem-se a premência à simbolização na área da saúde, as dificuldades dos participantes em discorrer sobre o tema e sobre o porquê da emergência de possíveis novos símbolos de competência. Finalmente, concluiu-se que compreender os significados atribuídos pelos usuários dos sistemas de saúde aos atos e práticas realizados por seus cuidadores pode contribuir para o aperfeiçoamento progressivo dessas práticas formais de cuidado. Embora as funções ritualísticas dos comportamentos e objetos utilizados nos atos de cuidado à saúde sejam mais facilmente observadas nas chamadas práticas informais e populares, elas persistem nas maneiras formais ou profissionais de agir. Esse tipo de fenômeno se deu após a emergência da medicina científica moderna, com o jaleco branco, por exemplo, e ainda se dá, na atualidade, embora novos símbolos pareçam surgir e ocupar esse espaço ritualístico.
This study aimed to analyze and interpret the thoughts and experiences of service users attending Primary Care / Family Health Units (FHU) on the use of white coat or white clothes by physicians and other health professionals. The method used was interviews with open questions, in depth, with users of FHU, transcribed and analyzed for content and statements. The sample was closed by theoretical saturation. As a result, eleven interviews were identified in a marked asymmetry and psychological and socio-cultural background of the three identified clusters of meaning: clothing as a mark of identity; clothing is not valued as a symbol of professional competence and clothing interferes, positively or negatively, in relations between clinicians and patients. We discuss the urgency of symbolization in health, the difficulties of the participants discuss the topic and why the emergence of possible new symbols of power. Finally, it was concluded that understanding the meanings assigned by users of health systems to the acts and practices carried out by their caregivers may contribute to the progressive refinement of these formal practices of care. Although the functions of ritualistic behaviors and objects used in acts of health care are more easily observed in so-called informal and popular practices, they persist in formal or professional ways of acting. This type of phenomenon occurred after the emergence of modern scientific medicine, with the white coat, for example, and remains at present, although new symbols appear to arise and occupy this ritual space.