Na última década, o crânio de uma mulher escavado em Lagoa Santa, Minas Gerais, tornou-se um ícone científico e cultural no Brasil. Luzia é tida como um dos mais antigos remanescentes ósseos humanos das Américas, com aproximadamente 11.500 anos. Neste trabalho são analisados discursos e representações sobre e em torno desta peça pré-histórica. Situado entre os domínios da natureza e da cultura, o espécime foi transubstanciado em um indivíduo dotado de características pessoais próprias, além de relacionado aos debates sobre a ancestralidade biológica e cultural do povo brasileiro. O trabalho também explora as apropriações socioculturais sobre Luzia, que envolvem questões relativas a disputas científicas sobre primazias e temporalidades de ocupação do continente americano; representações da pré-história; bem como as interfaces entre raça, ciência e sociedade no Brasil contemporâneo.
Over the last decade the skull of a woman excavated in Lagoa Santa, Minas Gerais, has turned into a scientific and cultural icon in Brazil. Luzia is taken to be one of the earliest human bone remains from the Americas, dating from approximately 11,500 years ago. In this work the authors analyze discourses and representations about and surrounding this prehistoric find. Situated between the domains of nature and culture, the specimen was transubstantiated into an individual possessing her own personal characteristics, while simultaneously being inserted into the debates on the biological and cultural ancestry of the Brazilian people. The work also explores the sociocultural appropriations of Luzia, prompting questions about the scientific disputes surrounding the primacies and temporalities involved in the occupation of the American continent and representations of prehistory, as well as the interfaces between race, science and society in contemporary Brazil.