O artigo analisa a construção de uma imagem do Brasil pelos norte-americanos. Partimos do exame de documentos do Conselho de Fiscalização das Expedições Científicas e Artísticas Nacionais, procurando identificar a significação da preocupação com a construção de tal imagem por parte de agências e representantes governamentais, correlacionando-a com a problemática dos objetos fronteiriços por meio do exame dos dispositivos de governo que envolveram relações entre organismos do Brasil e dos Estados Unidos. Esse pano de fundo é uma abordagem que desemboca no exame de um conjunto de filmes produzidos com o apoio do Escritório de Assuntos Interamericanos, chefiado por Nelson Rockefeller, e do governo brasileiro, durante a década de 1940. Consideramos esses filmes como objetos fronteiriços, representando distintas perspectivas do país desenvolvido, interessado na exuberância natural e no potencial político e econômico de um país continental que começou a forjar-se enquanto nação em pleno desenvolvimento, com instituições voltadas ao patrimônio. Nesse contexto, o cinema documentário representou muito mais do que o retrato de um excêntrico país do Terceiro Mundo. Ele representou uma complexa estratégia política entre ambos os países, em prol do progresso regido pelos novos rumos da integração de mercados em moldes americanos.
The article analyzes the construction of an image of Brazil by North-Americans. The documents produced by the Conselho de Fiscalização das Expedições Científicas e Artísticas Nacionais were examined, trying to identify the significance of that image for governmental agencies and representatives. That examination encompasses the approach of boundary objects related to political relations between Brazil and United States. The article focuses on a set of documentary films produced with support from the Office of Inter-American Affairs, headed by Nelson Rockefeller, and the Brazilian government during the 1940s. These films are considered boundary objects because they represent different perspectives of the developed country on the natural exuberance and political and economic potential of a continental country which began to forge itself as a nation in full development, with its own institutions for heritage policies. In this context, the documentary films represented much more than a portrait of an eccentric Third World country. They represented a complex political strategy between both countries in favor of progress and commercial integration according to North-American rules.