Este artigo baseia-se numa pesquisa de natureza etnográfica realizada na área metropolitana de Lisboa, entre 2005 e 2007, cujo objeto é o graffiti urbano. Este é um contributo para o patrimônio de estudos dedicados à juventude, na medida em que aborda as questões de criatividade, agência e construção identitária num contexto social que, como diversas pesquisas têm demonstrado, é basicamente ocupado por indivíduos jovens. O risco e o gênio artístico são elementos que permitem avaliar o mérito de seus atores, fomentando a fabricação de uma representação do graffiti writer como um herói desalinhado, um virtuoso que se destaca do comum dos cidadãos. Seja pela vivência intensa do perigo na execução de graffiti ilegal em contextos ameaçadores, seja pela busca de uma linguagem estética singular e inovadora, o writer transcende fronteiras normativas e limitações pessoais. Argumentamos por isso que o graffiti é um fator de capacitação individual, um recurso vital na construção de identidades pessoais e coletivas à margem dos padrões hegemônicos.
An ethnographic research project developed in Lisbon's graffiti community between 2005 and 2007 forms the starting point for exploring the social condition of young members from this community. This article looks to add to the theoretical debate on urban youth cultures, invoking key concepts like creativity, agency and identity in this particular cultural universe. The graffiti writers live between two social and cultural worlds, evolving complex strategies to manage identities and everyday life. For many young people, graffiti represents a ground for their struggles and transgressions, a chance to reject the law and hegemonic norms, an arena where they can experience excitement, risk, behave heroically and, sometimes, suffer painful sanctions. In a safety-obsessed society, danger becomes a space for freedom where young writers can challenge the limits of life and normative boundaries. This is why there is often a feeling of release and autonomy, of escaping the disciplinary control of social norms and worldly habits and why their exploits appear to be imbued with greatness and heroism.