Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, consolidou na cultura nacional a valorização da mestiçagem racial como um dos mais sólidos fundamentos da sociedade brasileira. Este artigo empreende uma releitura da tese freyreana da miscigenação, identificando-a como resultado de uma relação erotizada marcada pelo sadismo dos brancos e pelo masoquismo dos negros. Essa noção será comparada com as teses lançadas por Arthur de Gobineau em seu Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (1853-1855), evidenciando os afastamentos e semelhanças que unem a obra freyreana a um importante representante do pensamento racialista.
Slaves & masters, by Gilberto Freyre, has established in Brazilian culture a positive view of racial miscigenation as one of the bases of the nation's stability and distinctiveness. This paper aims to reevaluate Freyre's theory of hybridity, showing how it results from an eroticized relation characterized by the sadism of whites and the masochism of blacks. This idea can be compared to Arthur de Gobineau's theses presented in his Essay on the inequality of human races (1853-1855), shedding light on the way Freyre's work is ambiguosly connected to an important representative of racialist thought.