Considerando a importância da análise epistemológica na produção do conhecimento científico em qualquer área em termos gerais e na administração em termos particulares, o presente artigo se propõe a analisar os fundamentos epistemológicos de um dos temas que vem ganhando relevância no contexto da produção acadêmica em administração: a Responsabilidade Social Corporativa. A partir do estudo desenvolvido por Moretti e Campanário (2009), o qual mapeou as principais referências bibliográficas utilizadas para fundamentar os trabalhos apresentados sobre a temática nos Encontros Nacionais da Anpad, foram selecionadas oito obras referenciadas, as quais estavam relacionadas especificamente aos fundamentos da responsabilidade social e analisaram-se os trechos que tratam dos motivos pelos quais as empresas praticam ações de responsabilidade social. Posteriormente, as obras foram analisadas sob a ótica das principais correntes epistemológicas do séc. XX, consideradas relevantes para a compreensão do fenômeno: empirismo, racionalismo, utilitarismo, positivismo, funcionalismo e dialética. As conclusões apontam para o fato de que, além da existência de uma zona de conforto intelectual nos estudos sobre o assunto, já apontadas por Moretti e Campanário (2009), o embasamento das referências utilizadas está centrado na lógica de operar do paradigma dominante nas ciências da administração, ressaltando o caráter funcionalista e utilitarista das práticas de responsabilidade social por parte das empresas. Curiosamente, os estudos não puderam ser classificados como empiristas, racionalistas ou positivistas devido à falta de dados concretos que fundamentassem as conclusões dos autores, com exceção da obra de Freeman (1999) a qual apresenta bases empíricas a partir das quais as conclusões são auferidas. As conclusões chamam a atenção para as dificuldades de desenvolvimento de um campo de pesquisas centrado em poucas obras e com fundamentos epistemológicos restritos e não explicitados, levantando a necessidade de proposição de pesquisas que, utilizando-se de diferentes pressupostos epistemológicos, possam descrever o fenômeno de forma mais precisa, contribuindo para uma compreensão reflexiva da atuação das organizações empresariais no campo social.
Considering the importance of epistemological analysis in the production of scientific knowledge in any area in general and in administration in particular terms, this article aims to analyze the epistemological foundations of one of the themes that has been gaining importance in the context of academic research in management: Corporate Social Responsibility. Inspired by the study developed by Moretti and Campanário (2009), which mapped the primary references used to substantiate the works presented on the topic during Enanpads, we selected eight works referenced, which were specifically related to the foundations of social responsibility and analyzed the sections dealing with the reasons why companies practice social responsibility. Later, the works were analyzed from the perspective of the main epistemological thoughts in XXth century, considered relevant for understanding the phenomenon: empiricism, rationalism, utilitarianism, positivism, functionalism and dialectics. The conclusions point to the fact that, besides the existence of an intellectual comfort zone in the studies on the subject, as pointed out by Moretti and Campanário (2009), the foundation of the references used is centered on logic of the dominant paradigm in administration studies, highlighting the functionalist and utilitarian character of social responsibility's practices made by companies. Interestingly, the studies could not be classified as empiricist, rationalist or positivist due to lack of concrete evidence to substantiate the authors' conclusions, except for the work of Freeman (1999) which presents an empirical basis from which conclusions are received. The findings draw attention to the difficulties of developing a field of research focused on few works, with non-explicit and restricted epistemological options, raising the need for research using different epistemological assumptions to describe the phenomenon more accurately, contributing to a reflective understanding of the role of business organizations in the social field.