O artigo investiga o papel do retrato fotográfico no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Embora esteja presente em outras obras do escritor, como em Memorial de Aires ou Esaú e Jacó, apenas em Dom Casmurro a fotografia assume uma função determinante na estrutura da narrativa. A hipótese é a de que, nesta autobiografia ficcional de um personagem obcecado por reconstituir os laços entre o presente e o passado, as aparências e a realidade, o rosto e a alma, Machado põe em jogo questões comuns ao imaginário fotográfico do século XIX, quando os retratos adentram as casas burguesas. Dentre essas questões está o tema - propriamente moderno - da identidade, da divisão do sujeito e do desdobramento da personalidade, tema caro aos estudos de Machado, dentre os quais os de Antonio Candido, Augusto Meyer e, mais recentemente, José Luiz Passos.
This paper investigates the role of the photographic portrait in Dom Casmurro, by Machado de Assis. This fictional autobiography of a character obsessed by the reconstruction of the links between the present and the past, appearance and reality, face and soul deals with questions which are also part of the photographic imaginary of the 19th century, when photographic portraits become part of every bourgeois home. Among these questions we find the theme of identity and of the duplication of the self, which are also present in Machadian studies such as those developed by Antonio Candido, Augusto Meyer and, more recently, José Luiz Passos. Even though photography appears in several of Machado de Assis's novels, such as Memorial de Aires or Esaú e Jacó, only in Dom Casmurro is it determinant for the structure of the narrative.